Pertubação e diversão...por mais que pareça árido ou corrosivo, não se engane, escrevemos por afeto e pelo afeto.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
domingo, 14 de agosto de 2011
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Com a palavra... minha filha Natália. Puxão de Orelha!
Carta Aberta
Quer saber qual é a pior coisa pra uma mulher? Quando a tua avó (sim, uma senhora) te pergunta: e então, vais ficar pra titia? Quando a tua mãe pergunta: Por que não arranjas um namorado e desgruda de mim? Tristeza é pouco. O que experimento aqui é indignação. Cadê aquela independência feminina?
Não vivemos no século XIX, onde a vida da mulher só fazia sentindo ao lado de um homem, cuidando do lar e do casamento, quase sempre de fachada. A mulher era a “casa” e o meio de procriação da espécie, passando o sobrenome do homem em diante. Poxa, queimamos sutiãs, buscamos nosso espaço no mercado de trabalho, viramos presidente até aqui num dos países mais machistas do mundo, e mesmo assim o que mais me revolta é que eu não tenho um desses ogros ambulantes que só pensam em bunda e bolas (de futebol, acredito). Um macho.
Minha mãe me acha a mulher mais linda do mundo, pior que ela só o meu pai. A relação do pai com a filha só Freud explica e quem sou eu pra explicar Freud, correto? Mesmo assim, filha única é a única princesa de todas as famílias reais do mundo. Eu sou mais que uma Kate pra ele. E pra minha mãe, sou uma mera mortal, mais uma encalhada que não arranja namorado. “Você só não tem um porque não quer”, diz ela. Eu que não quero? Existem hoje 4 milhões de mulheres a mais que homens no Brasil. Q-U-A-T-R-O M-I-L-H-Õ-E-S! Sabe o que é isso? Bem, nem eu... mas não muda o fato de que o mercado está mais complicado que antigamente.
Além disso, os homens que existem na nossa faixa etária só pensam no conjunto, ou seja, quanto mais mulher melhor, certo? Errado! Pelo menos pra nós, do gênero feminino, que nascemos e crescemos ouvindo contos de fadas e histórias românticas; que choramos assistindo a novela das seis da Globo e que sempre torcemos para que a mocinha fique com o mocinho em qualquer filme, felizes para sempre. Quem sabe essa independência se realizaria se ao invés de historinhas para dormir ouvíssemos sobre as lutas das mulheres no mundo, dos casamentos desfeitos, dos homens infiéis. Assim, ensinaríamos às pequenas garotinhas que não é necessário um garotinho do seu lado. Ele vai ficar gordo, feio, cheio de manias e cada vez mais distante de ti, companheira. Agradeceríamos por não ter que carregar um fardo e, diferentemente do porquê deferido pela minha mãe, estaria sendo um exemplo. Espalharíamos a corrente: Seja uma encalhada! Pra que viver com um marciano quando podemos viver em Vênus, sozinhas?
Então, vó Lalá, mamãe querida e outras mulheres da minha família que sempre querem saber da minha situação amorosa, prefiro pensar que não preciso de um homem, que eu sei muito bem ser feliz comigo mesma, que a minha felicidade não está baseada num indivíduo do sexo masculino e sim nas minhas conquistas. Prefiro. Porque se eu parar pra pensar no porquê de não ter um companheiro não vou chegar à conclusão nenhuma. E sabe o que é pior pra uma mulher? Pior até mesmo que depilação? Não ter respostas pra perguntas tão simples que até os idiotas do tempo das cavernas, conseguem. Existem 4 milhões de mulheres a mais, são 4 milhões de motivos a mais e 4 milhões a mais de defeitos em mim. E essa soma é muito complicada pra uma simples estudante de jornalismo, encalhada, depressiva, enlouquecida e que possivelmente se perguntará, enquanto segurar uma vela para as amigas: cadê o porra do pai dos meus filhos?
domingo, 7 de agosto de 2011
Encontro
A outra mais baixa, morena, cabelo ondulado sempre ajeitadinho. Bela, como era bela! Sorriso largo, transgressor, quase irônico. Olhos como jabuticabas. Membros inferiores limitados pela pólio, desenvolvida ainda bebê ao receber vacina estando com o vírus. Bolsa transpassada. Jeans e botas - precisava de firmeza para caminhar.
Bolsas transpassadas, de couro, anos 80. Influência do movimento hippie. Desdobramentos da abertura política.
Uma... fazendo dos estudos ponte para tornar-se educadora e aprofundar sua militância política.
A outra... forjando o direito de estudar, teimando em estar e sentir-se viva, sujeito de direitos. Abrindo espaço na sociedade que segrega. Queria estudar e... talvez ser educadora.
Uma... firme e ágil em seus passos. Pernas longas. Facilidade para locomover-se. Vento nos pés. Vento no olhar.
A outra... pernas submissas ao tônus que oscila. Simplesmente caminhar, desafiador demais. Perna que falha. Tombos iminentes. Vento... no olhar!
Uma... estudante de magistério... olhava para cada ser como sujeito de direitos.
A outra... também no magistério... vivia a necessidade premente de ser e estar, de poder. Ao empinar o nariz e andar, impactava aos demais, desafiadora. Enxergava os demais, mas prioridade era fazer-se valer, ganhar espaço, existir.
Uma... não soube o que fazer ao primeiro tombo da outra. Ofereceu seus braços para que se reerguesse.
A outra... não tolerava ajuda. Tinha as marcas de quem precisa diariamente provar independência. Provar-se merecedora de estar viva.
Uma... estranhou a recusa de ajuda vinda da outra.
A outra... insistia em rejeitar ajuda. Não queria ser alvo da pena dos demais.
Uma... certo dia... acolhendo, inclusive gritos e impropérios na reafirmação de autonomia da outra, buscou mostrar-se parceira sem anular a luta da outra.
Uma... num determinado tombo da outra... silenciosa e simplesmente sentou-se a seu lado, no meio da rua. Compartilhou a queda!
A outra... boquiaberta... não sentiu-se desrespeitada pela pena ou assistencialismo.
Uma... aprendeu na amizade que se fortalecia a parceria como instrumento da inclusão, do respeito às diferenças. Cair foi preciso!
A outra... acolheu a parceria. Nunca a tinham tratado assim.
Nessas andanças, ambas tornaram-se educadoras.
Uma... ainda o é.
A outra... educadora por determinado tempo... não superou a derradeira queda. Foi-se num grotesco acidente de carro.
Dentre o universo de experiências que ficaram... as flores silvestres amarelas que resistiam ao concreto no trajeto para a escola de Segundo Grau, em Pelotas.
Uma... até hoje ao olhar para as tutilas - nome dado pela outra às belas flores - envia ao além
as emoções compartilhadas no tempo em que a vida parecia estrada sem fim.
P.S. Tutilas são um belo amparo para as quedas!
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Encantamento
terça-feira, 28 de junho de 2011
Tô mais pra Rita Lee, hoje
Venha me beijar
Meu doce vampiroooo
Ou ouuuuu
Na luz do luar
Ãh ahãããããh
Venha sugar o calor
De dentro do meu sangue...vermelhoooo!
Tão vivo tão eterno...veneno!
Que mata sua sede
Que me bebe quente
Como um licor
Brindando a morte e fazendo amor...
Meu doce vampiro
Ou ouuuuu
Na luz do luar
Ãh ahãããããh
Me acostumei com você
Sempre reclamando, da vidaaaa
Me ferindo, me curando..a ferida
Mas nada disso importaaaa
Vou abrir a portaaaa
Prá você entrar
Beija minha boca
Até me matar...
Cha lá lá lá
Ou ouuuuu
Cha lá lá lá
Ou ouuuuu...Ou ouuuuu
Ãh ahãããããh
Ou ouuuuu...Ou ouuuuu
Ãh ahãããããh
Ãh ahãããããh
Me acostumei com você
Sempre reclamando da vidaaaa
Me ferindo, me curando...a ferida
Mas nada disso importaaaa
Vou abrir a porta
Prá você entrar
Beija a minha boca
Até me matar...de amoooor!
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Vida
terça-feira, 17 de maio de 2011
Shanti
domingo, 3 de abril de 2011
Víscera e coração
terça-feira, 15 de março de 2011
Alguns dias atrás
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Cabe dizer que tem também:
Barbarismo,
Coloquialismo,
Alcoolismo
Vagabundismo, mas quero falar do molambismo!
Quimbundo, também kimbundu, língua africana, lá de Angola, de onde emprestamos a palavra molambo. Em quimbundo, mulambu.
Esclarecidos os empréstimos lexicais, molambo em um dos seus significados quer dizer farrapo, roupa esfarrapada.
Aqui no sentido MICROcoisas, recorro ao sufixo ismo para denominar um novo elemento: o MolAmBisMo.
Molambismo, na falência da modernidade, sugere aquela ação feita de qualquer jeito. A coisa remendada, o trabalho mal feito, a emenda colada a cuspe, aquilo feito de jeito duvidoso, contudo sem maldade, mas por falta de empenho e conhecimento... e porque é mais baratinho.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Pois então, falei no outro blog e vou falar aqui também!
Existe o marxismo
o capitalismo
o sadomasoquismo
o hedonismo
o socialismo
o higienismo
o paisagismo
o anarquismo, dezenas de "ismos"!
E agora também pra vocês: o Molambismo, primo-irmão do Gambiarrismo.
Você sabe o que é isso?
Até o Zeca Pagodinho poderia dizer: - nunca vi, nem comi, eu só ouço falar.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Mudança de paradigmas... E como ficamos nisso?
Uns mais, outros menos, recebemos influência - desde o período medieval, diga-se de passagem - do mito de Tristão e Isolda, que ao beberem de filtro mágico, despertam para irresistível e eterna paixão. Seria aí que tudo começou... aliado à necessidade nada romântica de privatizar a propriedade e concentrar bens com o advento de famílias monogâmicas?
Para nós, meros ocidentais, esta ideia de amor é que define as relações.
Dizem os estudiosos que exigimos inconscientemente que o cônjuge (odeio esta palavra... urgh!) nos alimente com eterno êxtase. Bem, cônjuge poderia ser substituído por amante, daria no mesmo. O xis dessa questão é outro.
Inspirada por minhas e outras experiências, percebo que algo na matemática do amor romântico não contribui para resolvermos problemas, nem com respostas aproximadas, mesmo com os noves fora das operações inversas.
Na prática, na vida como ela é, a ideia do amor líquido da pós-modernidade também não tem proporcionado respostas, pelo menos para mim, apesar de racionalmente compreender este conceito e seus meandros, buscando significá-lo.
Transcendi a mesmice e a prisão da relação convencional, institucinalizada, mas não me satisfaço com a banalização dos sentimentos instantâneos, das relações baratas e prostituídas.
O mote atual é "pegar e não se apegar". Nao seria outra forma de patrulhamento?
E onde fica o jeito pessoal de cada ser lidar com sentimentos e parcerias?
É preciso muita ousadia e sensibilidade para presenciar a transição de paradigmas.
Repudio o amor (o que é mesmo o amor?) que aprisiona, se apropria e mata ao matar-se enquanto uno, inteiro, mas também o nao-amor (se é que poderia assim chamá-lo) que banalizado, banaliza, coisificando seres e sentimentos.
Enquanto isso... deixo a vida me levar.
És um terráqueo, levanta a cabeça!
Acompanhar os egípcios em revolução por direitos sociais, econômicos e políticos - que os militares sejam mesmo transição e o poder estadunidense combatido ... Amém! - enche-me de energia.
Um dos slogans gritados pelo povo que continua nas ruas resgata identidade, pertencimento orgulhoso a uma nação, conclamando a todos levantar a cabeça. Empolgo-me como brasileira, latina... terráquea. Sim, outros mundos são possíveis quando entrelaçamos nossas singularidades e criamos algo no coletivo.
Juntamente com o Egito, Argélia, Jordânia e Iêmen, bem como o povo italiano que exige nas ruas a saída de Berlusconi por mentir ao estado, envolver-se com prostituição de menores e julgar-se acima da lei; nos dão um exemplo de cidadania.
Além de erguer minha cabeça em sintonia com os egípcios, tiro meu chapéu para reverenciá-los, assim como para os demais povos que forjam outros mundos.
É na resistência que esses mundos são perspectivados.
Resistência que ganha força e poder no coletivo.
Parece-me que esta é a aprendizagem que precisamos continuar buscando.
Uma aprendizagem que esteja para além dos discursos (por si, aprisionantes à velha forma de fazer política, mesmo que com novas roupagens). Uma aprendizagem que se alimenta de atitudes ousadas e criativas, que vencem o medo e a apatia conforme são forjadas.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Aquillo que fica
Este estudo parte do pedacinho - mielograma ou aspirado de medula - que é extraído do osso externo, bem ali, na frente do coração ou na crista ilíaca, no osso da perna.
A coisa funciona mais ou menos assim, depois de uma anestesia não muito eficaz, ardida pra danar, o médico introduz uma agulha em forma de cruz (desconjuro!) no osso escolhido. Se o externo ou a crista ilíaca em questão for no seu corpo, você terá dimensão dessa experiência.
Anime-se, mesmo parecendo, sua alma, seu eu, não o abandonará... o coração continuará vibrando e as pernas continuarão levando-o a espaços desejados! Mesmo porque... é sóóó manter a caaaalma, a tranquilidaaade, inspirar e expirar suavemeeeente, não contrair ou tensionar seus músculos, seu corpo, pensar em coisas boas, relaxaaaando, sorriiiindo.
Desculpem, não há como não gargalhar!!! Lembro-me da pergunta genial da moça com câncer no útero, de mãos na cintura, ao interpelar o médico acintosamente: Manter a vida normal... e "como" isso é possível, doutor?
Experiências como punção, perda de pessoas queridas, frustrações, medos, dores, decepções, perdas em si, a gente não esquece. Mas justamente elas é que nos fazem transcender, levando-nos a continuar apostando na vida que pulsa.
Para isso precisamos superar o medo de nos lançarmos e principalmente o medo que porventura nos faça superproteger pessoas - filhos, alunos, por exemplo - evitando que se frustrem. Lidar com as frustrações é redentor, é libertador, traz aprendizagens, ensina a viver.
Neste contexto, aproveito para contar que na mesma semana em que meu eu quase se esfacelou com a punção medular, ao vagar pelo centro da cidade, entrei aleatoriamente numa loja e fiquei divagando. Não, estou para além do consumismo. Eis que de repente surge uma moça atenciosa e oferece ajuda, respondi a célebre "tô dando uma olhadinha", terror dos comerciários.
Agradeci e ia saindo quando ouvi da mocinha simpática: Você é a Sandra, não é? Respondi. Ela complementou : você foi minha professora no bairro João Paulo, na 4ª série.
Apesar de reconhecer alguns estudantes que já tive o privilégio de conviver, isto nem sempre é possível, principalmente transcorridos algo como 20 anos.
Isabel, não reconheci você, não sei nem se seu nome é escrito com S ou com Z, consequência da perda de contato direto, mas estou profundamente agradecida por você ter me reconhecido - em especial nesta semana de "punção".
Saber que você guarda meus bilhetes que incentivavam a leitura e o afeto, escritos vinte anos atrás e que mostra a sua filha para incentivá-la a ler, a estudar, encheu-me de vida. Algo da nossa relação estudante/professora continuou pulsante. Não foi à toa que nos encontramos nas voltas que a vida dá.
Eu teria muito a "lhe" dizer, a "me" dizer sobre o que nos aconteceu, mas as palavras neste momento parecem insuficientes. Nossa experiência está para além das palavras.
A literatura sempre me impulsionou e saber que venho conquistando parceiros nesta paixão encanta-me, apesar dos percalços de um sistema em que muitos dos meus alunos (e outros tantos) não conseguiram e/ou não conseguem concluir o estudo formal.
Hoje à tarde vou levar no seu trabalho o MICROcoisas, meu mais recente parto literário. Quero compartilhar com você minha escritura, quero acrescentar aos bilhetes do passado outras "escrivinhações", ampliar o assunto com a sua filha.
Isabel, ler linhas e entrelinhas dos livros e da vida torna nossas experiências enriquecedoras... E não será uma punção medular ou a imposição de um sistema desigual e injusto que nos impedirá de escolher aquilo que verdadeiramente não queremos esquecer... pois o coração continua pulsante sobre nossas pernas.
Você me encheu de vida, Isabel!
Escolho registrar você em minha retina e memória.