terça-feira, 2 de agosto de 2011

Encantamento

Saio do cinema recém inaugurado. Não como entrei. Impregnada com o entrelaçamento das histórias de Germain e Margueritte. Vivi intensamente a sintonia de suas diferenças. Enquanto me desloco da sala de projeção acompanhada por estes seres fabulosos... desejo desesperadamente um café. Procuro espaço onde possa enxergar o horizonte e bebê-lo. Encontrando-o, sento-me, mesa e cadeiras de madeira maciça a receber o sol do meio da tarde. Peço um expresso. Olho o sol... olho o mar. A vida pulsa. Respiro-a. O instante capturou-me. Vasculho minha bolsa atrás de caneta e agenda... Preciso escrever! Reencontro os trevos dados por Glorinha dias atrás, no Quilombo, que desidratam entre as páginas vasculhadas. Preciso escrever! Trevos convencionais, não quatro folhas, impregnados de afeto. Trevos que atravessaram a menina ao sorver a vida da terra de sua mãe, ofertados aos que lhe acompanhavam. Esses trevos eternizaram o momento e transbordam mais vida em meu instante. Chega o expresso. Bebo-o vagarosamente atravessada pelas conversas, no mesmo banco de parque dias a fio, entre Germain e Marguerite e, os trevos de Glorinha. A vida pulsa! Escrever é preciso! Mais um gole. O movimento do braço não acompanha tanta urgência. Atropelo palavras que disparam atrás dos sentimentos. Glorinha na autoridade de seus quatro anos compreende-se princesa. Deixei o mundo encantado há muitas e muitas gerações. Chego a questionar se alguma vez acreditei. Penso que não. Procuro absorver o mundo em seus encantamentos. Colher encantamentos possibilita enfrentar a concretude, a realidade... mesmo porque tudo que é sólido desmancha no ar. Este é momento de encantamento. Pulsante. Fluido. Eternizado em minha experiência. As tardes com Germain e Margueritte no cinema mais uma vez me provocaram a (re)conhecer a importância de investir nas pessoas, acolhendo suas trajetórias, despindo-nos da amarra dos preconceitos. Há uma linha tênue entre nossos vãos conceitos de tosco e sublime, sabedoria e ignorância, ternura e indiferença... erudito e popular. Preciso escrever! Preciso de encantamentos. Preciso... de mais um gole de café. Urgente é viver! A xícara de café se eterniza. Respiro lenta e profundamente.

Um comentário:

  1. Havia feito um comentário antes, mas não apareceu. Pois bem, eis me aqui de novo pra dizer: que palavras!!!!
    Me levaram para o café, para o cinema, para a bolsa... para o deslugar da leitura. Beijoooo!

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