segunda-feira, 29 de agosto de 2011

ConJUnção de sENtimEnTos

Usamos tanto as palavras. Eis a  linguagem...
Ela estrutura o pensamento. As palavras nos fazem.
Percebo, há o interesse pelos substantivos: carro, casa, dinheiro;
Observo, há a preferência pelos adjetivos: novo, grande, muito.
Noto, há  a demarcação dos pronomes: meu, teu, dele.
     Mas eis que o universo se expande em mais e  nos apresenta as interjeições: oh!  Ai! Hem? Ufa! Argh!  Eia! Xô!  Puxa! Salve!  Viva! ... e nos interpela com outras classes de palavras pouco vistas, mas que indicam vida na vida. Há sempre um mas, um portanto, e, em especial,  um e  e um ou para nos retirar da tirania das certezas excessivamente certas e das incertezas cansativamente incertas. Por isso, adoro as conjunções. Elas podem mudar o rumo das coisas.
Viversonhar?

                                                      Viver     sonhar !

domingo, 14 de agosto de 2011

a DEsPeiTo daS InCErtEzAS, eiS ALgUmaS CeRtEZAs

     Impermanência é diferente de instabilidade.
         Ambição é diferente de ganância.
    Quietude é diferente de apatia.
         Reclamação é diferente de lamúria.
    Continuidade é diferente de mesmice.
         Complexidade é diferente de complicado.
    Distanciamento é diferente de afastamento.
          Diferença é diferente de estranho.
    Inquietude é diferente de insatisfação.
          Urgência é diferente de pressa.
    Brincadeira é diferente de sacanagem.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Com a palavra... minha filha Natália. Puxão de Orelha!

Carta Aberta

Quer saber qual é a pior coisa pra uma mulher? Quando a tua avó (sim, uma senhora) te pergunta: e então, vais ficar pra titia? Quando a tua mãe pergunta: Por que não arranjas um namorado e desgruda de mim? Tristeza é pouco. O que experimento aqui é indignação. Cadê aquela independência feminina?

Não vivemos no século XIX, onde a vida da mulher só fazia sentindo ao lado de um homem, cuidando do lar e do casamento, quase sempre de fachada. A mulher era a “casa” e o meio de procriação da espécie, passando o sobrenome do homem em diante. Poxa, queimamos sutiãs, buscamos nosso espaço no mercado de trabalho, viramos presidente até aqui num dos países mais machistas do mundo, e mesmo assim o que mais me revolta é que eu não tenho um desses ogros ambulantes que só pensam em bunda e bolas (de futebol, acredito). Um macho.

Minha mãe me acha a mulher mais linda do mundo, pior que ela só o meu pai. A relação do pai com a filha só Freud explica e quem sou eu pra explicar Freud, correto? Mesmo assim, filha única é a única princesa de todas as famílias reais do mundo. Eu sou mais que uma Kate pra ele. E pra minha mãe, sou uma mera mortal, mais uma encalhada que não arranja namorado. “Você só não tem um porque não quer”, diz ela. Eu que não quero? Existem hoje 4 milhões de mulheres a mais que homens no Brasil. Q-U-A-T-R-O M-I-L-H-Õ-E-S! Sabe o que é isso? Bem, nem eu... mas não muda o fato de que o mercado está mais complicado que antigamente.

Além disso, os homens que existem na nossa faixa etária só pensam no conjunto, ou seja, quanto mais mulher melhor, certo? Errado! Pelo menos pra nós, do gênero feminino, que nascemos e crescemos ouvindo contos de fadas e histórias românticas; que choramos assistindo a novela das seis da Globo e que sempre torcemos para que a mocinha fique com o mocinho em qualquer filme, felizes para sempre. Quem sabe essa independência se realizaria se ao invés de historinhas para dormir ouvíssemos sobre as lutas das mulheres no mundo, dos casamentos desfeitos, dos homens infiéis. Assim, ensinaríamos às pequenas garotinhas que não é necessário um garotinho do seu lado. Ele vai ficar gordo, feio, cheio de manias e cada vez mais distante de ti, companheira. Agradeceríamos por não ter que carregar um fardo e, diferentemente do porquê deferido pela minha mãe, estaria sendo um exemplo. Espalharíamos a corrente: Seja uma encalhada! Pra que viver com um marciano quando podemos viver em Vênus, sozinhas?

Então, vó Lalá, mamãe querida e outras mulheres da minha família que sempre querem saber da minha situação amorosa, prefiro pensar que não preciso de um homem, que eu sei muito bem ser feliz comigo mesma, que a minha felicidade não está baseada num indivíduo do sexo masculino e sim nas minhas conquistas. Prefiro. Porque se eu parar pra pensar no porquê de não ter um companheiro não vou chegar à conclusão nenhuma. E sabe o que é pior pra uma mulher? Pior até mesmo que depilação? Não ter respostas pra perguntas tão simples que até os idiotas do tempo das cavernas, conseguem. Existem 4 milhões de mulheres a mais, são 4 milhões de motivos a mais e 4 milhões a mais de defeitos em mim. E essa soma é muito complicada pra uma simples estudante de jornalismo, encalhada, depressiva, enlouquecida e que possivelmente se perguntará, enquanto segurar uma vela para as amigas: cadê o porra do pai dos meus filhos?

Natália Ribes Porto

domingo, 7 de agosto de 2011

Encontro

Uma, alta e loira. Cabelos lisos. Translúcida em sua tez. Olhos com amarelo a camuflar ora o verde ora o azul. Bolsa transpassada. Jeans e tênis.
A outra mais baixa, morena, cabelo ondulado sempre ajeitadinho. Bela, como era bela! Sorriso largo, transgressor, quase irônico. Olhos como jabuticabas. Membros inferiores limitados pela pólio, desenvolvida ainda bebê ao receber vacina estando com o vírus. Bolsa transpassada. Jeans e botas - precisava de firmeza para caminhar.
Bolsas transpassadas, de couro, anos 80. Influência do movimento hippie. Desdobramentos da abertura política.
Uma... fazendo dos estudos ponte para tornar-se educadora e aprofundar sua militância política.
A outra... forjando o direito de estudar, teimando em estar e sentir-se viva, sujeito de direitos. Abrindo espaço na sociedade que segrega. Queria estudar e... talvez ser educadora.
Uma... firme e ágil em seus passos. Pernas longas. Facilidade para locomover-se. Vento nos pés. Vento no olhar.
A outra... pernas submissas ao tônus que oscila. Simplesmente caminhar, desafiador demais. Perna que falha. Tombos iminentes. Vento... no olhar!
Uma... estudante de magistério... olhava para cada ser como sujeito de direitos.
A outra... também no magistério... vivia a necessidade premente de ser e estar, de poder. Ao empinar o nariz e andar, impactava aos demais, desafiadora. Enxergava os demais, mas prioridade era fazer-se valer, ganhar espaço, existir.
Uma... não soube o que fazer ao primeiro tombo da outra. Ofereceu seus braços para que se reerguesse.
A outra... não tolerava ajuda. Tinha as marcas de quem precisa diariamente provar independência. Provar-se merecedora de estar viva.
Uma... estranhou a recusa de ajuda vinda da outra.
A outra... insistia em rejeitar ajuda. Não queria ser alvo da pena dos demais.
Uma... certo dia... acolhendo, inclusive gritos e impropérios na reafirmação de autonomia da outra, buscou mostrar-se parceira sem anular a luta da outra.
Uma... num determinado tombo da outra... silenciosa e simplesmente sentou-se a seu lado, no meio da rua. Compartilhou a queda!
A outra... boquiaberta... não sentiu-se desrespeitada pela pena ou assistencialismo.
Uma... aprendeu na amizade que se fortalecia a parceria como instrumento da inclusão, do respeito às diferenças. Cair foi preciso!
A outra... acolheu a parceria. Nunca a tinham tratado assim.
Nessas andanças, ambas tornaram-se educadoras.
Uma... ainda o é.
A outra... educadora por determinado tempo... não superou a derradeira queda. Foi-se num grotesco acidente de carro.
Dentre o universo de experiências que ficaram... as flores silvestres amarelas que resistiam ao concreto no trajeto para a escola de Segundo Grau, em Pelotas.
Uma... até hoje ao olhar para as tutilas - nome dado pela outra às belas flores - envia ao além
as emoções compartilhadas no tempo em que a vida parecia estrada sem fim.
P.S. Tutilas são um belo amparo para as quedas!


sexta-feira, 5 de agosto de 2011


A vida pontua.
            O mundo pergunta.
O dinheiro exclama!
         O vizinho questiona.
 Eu, hoje? Sou só reticências...


terça-feira, 2 de agosto de 2011

Encantamento

Saio do cinema recém inaugurado. Não como entrei. Impregnada com o entrelaçamento das histórias de Germain e Margueritte. Vivi intensamente a sintonia de suas diferenças. Enquanto me desloco da sala de projeção acompanhada por estes seres fabulosos... desejo desesperadamente um café. Procuro espaço onde possa enxergar o horizonte e bebê-lo. Encontrando-o, sento-me, mesa e cadeiras de madeira maciça a receber o sol do meio da tarde. Peço um expresso. Olho o sol... olho o mar. A vida pulsa. Respiro-a. O instante capturou-me. Vasculho minha bolsa atrás de caneta e agenda... Preciso escrever! Reencontro os trevos dados por Glorinha dias atrás, no Quilombo, que desidratam entre as páginas vasculhadas. Preciso escrever! Trevos convencionais, não quatro folhas, impregnados de afeto. Trevos que atravessaram a menina ao sorver a vida da terra de sua mãe, ofertados aos que lhe acompanhavam. Esses trevos eternizaram o momento e transbordam mais vida em meu instante. Chega o expresso. Bebo-o vagarosamente atravessada pelas conversas, no mesmo banco de parque dias a fio, entre Germain e Marguerite e, os trevos de Glorinha. A vida pulsa! Escrever é preciso! Mais um gole. O movimento do braço não acompanha tanta urgência. Atropelo palavras que disparam atrás dos sentimentos. Glorinha na autoridade de seus quatro anos compreende-se princesa. Deixei o mundo encantado há muitas e muitas gerações. Chego a questionar se alguma vez acreditei. Penso que não. Procuro absorver o mundo em seus encantamentos. Colher encantamentos possibilita enfrentar a concretude, a realidade... mesmo porque tudo que é sólido desmancha no ar. Este é momento de encantamento. Pulsante. Fluido. Eternizado em minha experiência. As tardes com Germain e Margueritte no cinema mais uma vez me provocaram a (re)conhecer a importância de investir nas pessoas, acolhendo suas trajetórias, despindo-nos da amarra dos preconceitos. Há uma linha tênue entre nossos vãos conceitos de tosco e sublime, sabedoria e ignorância, ternura e indiferença... erudito e popular. Preciso escrever! Preciso de encantamentos. Preciso... de mais um gole de café. Urgente é viver! A xícara de café se eterniza. Respiro lenta e profundamente.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Tô mais pra Rita Lee, hoje

Doce Vampiro
Venha me beijar
Meu doce vampiroooo
Ou ouuuuu
Na luz do luar
Ãh ahãããããh
Venha sugar o calor
De dentro do meu sangue...vermelhoooo!
Tão vivo tão eterno...veneno!
Que mata sua sede
Que me bebe quente
Como um licor
Brindando a morte e fazendo amor...

Meu doce vampiro
Ou ouuuuu
Na luz do luar
Ãh ahãããããh
Me acostumei com você
Sempre reclamando, da vidaaaa
Me ferindo, me curando..a ferida
Mas nada disso importaaaa
Vou abrir a portaaaa
Prá você entrar
Beija minha boca
Até me matar...

Cha lá lá lá
Ou ouuuuu
Cha lá lá lá
Ou ouuuuu...Ou ouuuuu
Ãh ahãããããh
Ou ouuuuu...Ou ouuuuu
Ãh ahãããããh

Ãh ahãããããh
Me acostumei com você
Sempre reclamando da vidaaaa
Me ferindo, me curando...a ferida
Mas nada disso importaaaa
Vou abrir a porta
Prá você entrar
Beija a minha boca
Até me matar...de amoooor!