terça-feira, 9 de novembro de 2010

MICROcoiseando o Big Bang

Vá ter paciência assim... lá na PQP!!!
Hoje tô mais para humor que angústia... Salve Jorge!!!
Passado o abalo existencial com a descoberta de que plaquetas e leucócitos se rebelaram (comigo?
justo comigo? por que?) diagnosticando-me uma "síndrome", tenho buscado não sucumbir às idas ao CEPON. Impressionante o efeito que palavras como câncer, leucemia, quimioterapia exercem sobre nossa vã filosofia. Transitar por espaços em que este é o mote, ainda mais... acreditem! Particularmente procuro encher-me de vida para encarar tudo isso como... é...há uma pedra no meio do caminho. Já me sentia mutante e desde o citado impacto - o meu Big Bang - esta ideia se materializou: Sandra, Mutante 9 22!
Tirando a burocracia (&*+¨#@*¨#!*&%$-@!) normalmente nada a serviço da vida, o Centro Oncológico proporciona encontros fabulosos, desde profissionais da saúde (médicos, enfermeiros) a pacientes (nunca gostei desta denominação, não sou e nem considero aquelas pessoas pacientes/apáticas. Vou descobrir um termo que me/nos valha!). Bem que lá precisamos verdadeiramente de paciência, pois a Lei de Murphy se aplica minuto a minuto... se algo pode dar errado, com certeza dará!
Então, haja humor!!
É com humor que passamos intermináveis horas a esperar a consulta médica. Como não faço quimioterapia ou radioterapia - minha droga é via oral - normalmente sou das últimas a entrar no consultório. Justíssimo!!! Acolho com sensibilidade e convicção.
Lá passei por vários estágios: entrar muda e sair ainda mais, chegar zumbi e sair sem alma, chegar e sair com aquele terrível nó na garganta, algumas vezes transformei-o em horizontes, chegar cheia de energia e entregar-me à leitura, chegar flutuante e sair capturada pelo riso. Já saí aos prantos e com muita raiva, também com a sensação de "poxa, eu não merecia isso"... mas alguém merece? Quem ou o que definiria? Transitar por e expressar todas estas emoções tem sido revitalizador. Sempre, sempre, sempre coloco-me observadora... há que olhar para além dos limites do próprio umbigo.
Tenho encontrado gente fantástica. Com elas, além de trocar experiências de vida, tenho rido muito. Talvez o riso seja elixir nas (des)graças.
Hoje uma senhora contava o quanto o exame de medula lhe provocou pânico, não conseguindo parar de chorar e gritar, seu escândalo perpassou todos os cantos do Centro... e que uma das enfermeiras, tentando ajudá-la, disse que cantaria, sua escolha então foi música sertaneja. Hoje, já pode rir disso.
Outra moça ria ao comentar que os médicos receitam "vida normal" em meio à quimio e à rádio e aos terríveis efeitos colaterais. Explique-me, doutor: como se faz isso?
Quanto a mim, inesgotáveis as vezes em que sou questionada ao perceberem o crachá "consulta" e não "acompanhante": "e tu, com essa cara, o que tens"? Desfiar o rosário "tenho... tenho não... estou com um tipo de leucemia" faz com que me perdoem pela cara (normal?) e me incorporem. Desculpem, esta é a minha cara e estou com LMC!
Nem vou refletir sobre a tal normalidade... porque aí sim posso perder o humor.
O Big Bang continua promovendo vida. Espero que o meu Big Bang esteja em sintonia com tamanha explosão de energia.


2 comentários:

  1. O QUE DIZER FRENTE À TANTA BELEZA, TANTA DELICADEZA E TANTA VIDA...minha querida amiga.
    Li e vou reler muitas vezes essa sua postagem.
    Para não perder o pique da coisa, tenho que dizer:
    Você está insurpotável!!!!!! Beijíssimos

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  2. Lindo o teu texto /compartilhamento, Sandra.Quanta coisa passa, fica, recria e se cria em lugares como um hospital, não é mesmo? Realmente é preciso muito humor pra tocar a vida. É bacana também perceber que redimensionamos a "gravidade" dos problemas depois de um perrengue desses. Vou repetir a Fá: estás insuportável! Bjão pra vcs.

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